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Já há alguns anos, produtores que não se importam de ser chamados de excêntricos tocam música clássica para suas videiras. Eles defendem que assim elas produzem melhores frutos.O que cientistas estão descobrindo agora, entretanto, é uma revelação que pode encorajar alguns produtores a indicar no contra-rótulo uma harmonização musical para seus vinhos.
A sinestesia é a propriedade que temos de perceber um estímulo através de dois sentidos simultâneamente. No exemplo do cruzamento de vinho e música, você sentiria o gosto através do paladar, mas também através do som. Um pouco estranho, mas não mais tão controverso. Estudos realizados pelo Laboratório Crossmodal da Universidade de Oxford mostram que a música pode ter influência na percepção de um vinho. Nesse caso, a área que estuda o fenômeno leva (em inglês) um nome que parece ter sido criado para uma deusa grega: Oenosthesia.
O estudo inicial documentou que, curiosamente, de forma intuitiva as pessoas associam os quatro gostos básicos do paladar, doce, amargo, ácido e salgado, com atributos musicais particulares. Neel Burton relata em recente publicação que as pessoas associam notas musicais altas, flautas e o beliscar do piano, com doçura e notas mais graves com amargor. Após a constatação dessas associações, o estudo verificou que expor os degustadores a músicas com propriedades sinfônicas que conciliavam ou não com esses quatro gostos influenciava na avaliação do gosto/sabor.
Outro estudo mencionado na extensa pesquisa relata – esse um dado básico e que não causa tanta estranheza – a observação de que a experiência de beber vinho se torna enriquecida e mais prazerosa com a música do que na ausência dela.
Em 2007, ainda à época do CD player, Clark Smith, grande influenciador na indústria do vinho da California, consultor, enólogo e ele próprio um guitarrista, já defendia que a combinação musical correta pode melhorar ou piorar a experiência da degustação. Smith chegou a ir além dos ritmos e indicar músicas particulares para acompanhar seus vinhos. Os gêneros musicais variam: tem rock, folk, jazz e até country, mas ele é bem específico quanto à harmonização, e sugere, junto com o estilo,o álbum, artista e música. Assim não tem ‘erro’.
Ele defende ainda que ‘Os vinhos carregam emoções da mesma forma que a música’. E acrescenta que existem ‘vinhos felizes e vinhos tristes’. Na sua concepção o Cabernet Sauvignon, por exemplo, precisa de algo que desperte raiva, e aí então ele ficaria ‘redondo e harmoniosamente doce’.
Jo Burzynska (Stanier Black-Five) executou um trabalho interessante e inusitado em Tufo, na Itália. Ela propõe um arranjo multissensorial em que coleta os sons gerados no vinhedo e na vinícola para compor uma peça com as diferentes frequências e timbres que ali aparecem . Essa peça é composta para acompanhar os vinhos do local estudado. Com isso, ela visou demonstrar que as características do vinho e da peça são exaltadas durante a apreciação conjunta de ambos.
Então, se você sai por aí escutando música à toa, mas ainda não encontrou motivos para beber a sua taça diária de vinho, agora já sabe que o repertório de motivos é grande. Então vá lá, abra seu branco, rosé ou tinto, beba com moderação e dance exageradamente.